terça-feira, 31 de agosto de 2010

Aparências.


APARÊNCIAS

Amigos!
Apesar das aparências
estarem de acordo com as circunstâncias
não sou eu quem morre de medo.

Antes
Durante
E após os interrogatórios
(Inclusive nos quotidianos trajectos de jipe)
a minha língua é que se torna de papel almaço
E minhas desavergonhadas rótulas de borracha
Coitadas é que tremem.

Ao bom evangelho dos cassetetes
ouvir avoengos pássaros bantos
cantarem algures nos ombros
velhas melodias de feridas.

E depois
à sedutora persuasão das ameaças
pela décima segunda vez humildemente
pensar: Não sou luso-ultramarino
SOU MOÇAMBICANO!

Será suficiente esta confissão
Sr. Chefe dos cassetetes
da 2ª. Brigada?

José Craveirinha


José João Craveirinha nasceu em Lourenço Marques, no dia 28 de maio de 1922 e faleceu em Maputo–Moçambique, no dia 06 de fevereiro de 2003. É considerado o poeta maior de Moçambique.

Autodidata, desempenhou diversas actividades tais como funcionário da Imprensa Nacional de Lourenço Marques, jornalista, futebolista, tendo também colaborado em diversas publicações periódicas, nomeadamente O Brado Africano, Itinerário, Notícias, Mensagem, Notícias do Bloqueio e Caliban.

Foi preso pela PIDE, mantendo-se na prisão durante cinco anos. Posteriormente após a independência de Moçambique foi membro da Frelimo e presidiu à Associação Africana.

Recebeu o Prêmio Alexandre Dáskalos, o Prêmio Nacional, em Itália, o Prêmio Lótus, da Associação Afro-Asiática de Escritores e o Prêmio Camões, em 1991.

Em 1991, tornou-se o primeiro autor africano galardoado com o Prêmio Camões, o mais importante prêmio literário da língua portuguesa.

Utilizou os seguintes pseudônimos: Mário Vieira, J.C., J. Cravo, José Cravo, Jesuíno Cravo e Abílio Cossa. Foi presidente da Associação Africana na década de 1950.

Obra: Xibugo, 1964; Cântico a um Dio de Catrane, 1966; Karingana Ua Karingana, 1974; Cela 1, 1980 e Maria, 1988

Fonte: Wikipédia.

7 comentários:

Everson Russo disse...

Interessante o poema,,,abraços amigo e um belo dia pra ti.

Marina-Emer disse...

bonitos versos y blog
buenos dias de saludo y un abrazo
Marina

Wanderley Elian Lima disse...

A ditadura e a tortura, foi uma constante em diversos países e colônias. Alguns aproveitaram esses momentos como fonte de inspiração. Foram os poetas da liberdade.
Abração

Unknown disse...

Óh, taí o Wanderley disse e tá dito.
Podse parecer irônico, mas ainda que toa semente transpareça estragada, sempre haveremos de encontrar uma aproveitável.
Faz parte do cotidiano. Não se sabe porque, mas ele tinha que estar lá.

Belíssimo poema meu amigo
a mensagem taí bem clara.

Lindo dia

bjs

Livinha

Carla Fernanda disse...

Bom dia! Graças a Deus acabaram estes tempos difíceis da tortura. Agora nos defrontamos com outras dificuldades. Estamos sempre lutando para implantar a paz no mundo. Interessante post!
Bom dia !!!
Carla Fernanda

Anônimo disse...

"E depois
à sedutora persuasão das ameaças
pela décima segunda vez humildemente
pensar: Não sou luso-ultramarino
SOU MOÇAMBICANO!"

Muito forte e tão verdadeiro!!!!!!
Bjs.

Helô Müller disse...

Ainda não havia lido um poema com referência à repressão! Bem interessante, gostei...
Bjão, amigo!
Helô