sábado, 29 de março de 2014

Morta.

  

MORTA

Quando exalou seu derradeiro alento,
A tarde suspira, o sol descia.
De nuvens pardas todo o firmamento,
No tão pungente instante se vestia.

Tétrica tarde, fúnebre e sombria,
Para os seus que a cercavam no momento.
Tanta tristeza, e tanta dor havia,
E tanto pranto, e tanto desalento.

Da vida térrea então se despediu,
E com um brando aroma lentamente,
Ela risonha para o além partiu.

E hoje formosa qual estrela pura,
Entre flocos de nuvens transparentes,
Brilha sua alma na celeste altura.

R.S. Furtado

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quinta-feira, 27 de março de 2014

A Flor e a brisa.

 
A FLOR E A BRISA

Linda flor que na floresta
Vivia triste a cismar,
Fez-lhe um dia a brisa festa,
E pôs-se a flor a corar.

– “Que sentes, linda florzinha,
Perguntou-lhe a brisa então,
Dói-te o viver tão sozinha
Nesta erma solidão?”

– “Meiga brisa, mais corada
Respondeu-lhe a flor assim,
Eu vivo aqui desprezada,
Ninguém se lembra de mim!”

– “Pois virei, flor de esperança,
Falar-te de amor e Deus:
Mas dar-me-ás por lembrança
Num beijo os perfumes teus.”

E foi-se lá na floresta,
Deixando-a triste a cismar:
E nunca mais fez-lhe festa,
Que a flor se pôs a murchar! 

Bittencourt  Sampaio
 

Francisco Leite de Bittencourt Sampaio nasceu em laranjeiras (SE) dia 11 de fevereiro de 1834 e desencarnou no Rio de Janeiro a 10 de outubro de 1885.

Foi jurisconsulto, magistrado, político, alto funcionário público, jornalista, literato, renomado poeta lírico e excelente médium espírita.

Militante na política, filiou-se ao partido liberal. Foi eleito deputado para a Assembleia Geral Legislativa nas legislaturas 1864-1866 e 1867-1870. Neste último período foi presidente do Espírito Santo, nomeado por carta imperial. Leia mais aqui:

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terça-feira, 25 de março de 2014

Sonhar.


SONHAR

Sonhar é transportar-se em asas de ouro e aço
Aos páramos azuis da luz e da harmonia;
É ambicionar o céu; é dominar o espaço,
Num vôo poderoso e audaz da fantasia.

Fugir ao mundo vil, tão vil que, sem cansaço,
Engana, e menospreza, e zomba, e calunia;
Encastelar-se, enfim, no deslumbrante paço
De um sonho puro e bom, de paz e de alegria.

É ver no lago um mar, nas nuvens um castelo,
Na luz de um pirilampo um sol pequeno e belo;
É alçar, constantemente, o olhar ao céu profundo.

Sonhar é ter um grande ideal na inglória lida:
Tão grande que não cabe inteiro nesta vida,
Tão puro que não vive em plagas deste mundo.

Helena Kolody

Nascimento: 12 de outubro de 1912 em Cruz Machado, Paraná, Brasil
Morte: 15 de fevereiro de 2004 (91 anos) Curitiba, Paraná, Brasil
Nacionalidade: brasileira
Ocupação poetisa, professora

Seus pais foram imigrantes ucranianos que se conheceram no Brasil. Helena passou parte da infância na cidade de Rio Negro, onde fez o curso primário. Estudou piano, pintura e, aos doze anos, fez seus primeiros versos.

Seu primeiro poema publicado foi a lágrima, aos 16 anos de idade, e a divulgação de seus trabalhos, na época, era através da revista Marinha, de Paranaguá. Leia mais aqui:

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domingo, 23 de março de 2014

Shakespeare LV.

 
 
SHAKESPEARE, LV

Nem mármore ou dourados monumentos
De reis viverão mais do que estas rimas:
Brilharás nestes lúcidos acentos
Além da suja pedra onde te encimas.

Quando as guerras tombarem as estátuas,
Arrancando as raízes do granito,
Nem Marte com seu fogo e as armas fátuas
Matarão a memória do meu grito.

Contra a morta, e o total esquecimento,
Caminharás eterna nos meus versos
Que te exaltam, momento por momento,

Nos olhos mais distantes e dispersos.
Se contam teu futuro sem o serem,
Vives dentro de todos que me lerem.

Guilherme Figueiredo
 
 
Guilherme de Oliveira Figueiredo (Campinas SP 1915 – Rio de Janeiro RJ 1997). Autor. Dramaturgo cujas peças são voltadas para temas mitológicos. Em sua maioria, escritas com uma abordagem cômica.

Formado em direito, inicia-se fazendo crítica teatral, em O Jornal, e literária no Diário de Notícias, ambos no Rio de Janeiro. Estreia como dramaturgo em 1948 com a comédia Lady Godiva e o drama Greve Geral, ambos montados pela companhia de Procópio Ferreira. No ano seguinte, surge Um Deus Dormiu Lá em Casa, inspirada em temática grega, iniciando... Leia mais aqui:

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sexta-feira, 21 de março de 2014

Floresta Morta.

 
                     FLORESTA MORTA
Por que, à luz de um sol de primavera
Uma floresta morta? Um passarinho
Cruzou, fugindo-a, o seio que lhe dera
Abrigo e pouso e que lhe guarda o ninho.

Nem vale, agora, a mesma vida, que era
Como a doçura quente de um carinho,
E onde flores abriram, vai a fera
Vidrado o olhar – lá vai pelo caminho.

Ah! Quanto dói o vê-la, aqui, Setembro,
Inda banhada pela mesma vida!
Floresta morta a mesma cousa lembro;

Sob outro céu assim, que pouco importa,
Abrigo à fera, mas, da ave fugida,
Há no meu peito uma floresta morta.

Pedro Kilkerry 


Poeta brasileiro, Pedro Militão Kilkerry, nascido em 1885, em Salvador da Baía, e falecido na mesma cidade, em 1917, morreu sem ter visto ser publicada em vida nenhuma das suas obras, embora posteriormente tenha sido considerado um dos grandes nomes do simbolismo brasileiro.

Em 1913, fez o bacharelato em Ciências Jurídicas e Sociais na Faculdade de Direito da Bahia. Nesta época, colaborava nas revistas Nova Cruzada, Os Anais, Via Láctea e... Leia mais aqui:

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terça-feira, 18 de março de 2014

Autoencontro.

         
AUTOENCONTRO

Hoje, eu me sinto como um pássaro,
Que voa a esmo em busca de um ninho,
Sem ter nada que possa lhe dar amparo
E tem por sina, sempre viver sozinho.

Hoje, eu me sinto como uma borboleta,
Que vagueia triste num jardim sem flor.
Sempre alerta, ou o espinho lhe espeta,
Mostrando as garras do seu desamor.

Hoje, eu me sinto como uma noite triste,
Sem brilho, opaca, chuvosa e muito fria.
Onde no céu, uma única estrela não existe,
Tornando-a sem graça, nefasta e sombria.

Já não sei quem sou, me perdi de mim,
Busco-me, estou sempre a me procurar,
Quem sabe, eu encontre alguém, e assim,
Me ache, e por fim, possa me encontrar.

R.S. Furtado

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domingo, 16 de março de 2014

Senhora da bondade.

 
  
SENHORA DA BONDADE

Não te quero por tua formosura
De rainha da graça entre as mulheres,
Quero-te porque és boa, porque és pura
E ainda mais porque sei que tu me queres.

A beleza exterior nem sempre dura.
E a d'alma, estejas tu onde estiveres,
Ungirás de meiguice e de doçura
Tudo em que a bênção deste olhar puseres.

Eu sou artista: encanta-me a beleza,
Em ti, porém, abstraio-a, inteiramente,
E penso amar-te assim com mais nobreza;

Pois, se te esqueço a forma e a mocidade,
É para amar em ti unicamente
A encarnação suprema da bondade.

Nogueira Tapety


O poeta Benedito Francisco Nogueira Tapety nasceu na fazenda Canela, em Oeiras, Piauí, no sia 30 de dezembro de 1890. Filho de Antônio Francisco Nogueira e Aurora Leite Nogueira. Irmãos: Maria de Jesus Moreira Campos (Bembém), Amélia (Dengosa), Amália (Cheirosa), Joaquina (Quinquina), Jeconias (Barra), José (Zé) e Sebastião (Bastim) Nogueira Tapety.

Estudou as primeiras letras em sua terra natal. Fez curso preparatório em Teresina. Ingressou na tradicional Faculdade de Direito do Recife, onde se formou em 1911.

Promotor Público, em 1912, da antiga capital do Piauí. Conselheiro Municipal. Idealizou a criação de uma instituição de artífices que... Leia mais aqui:
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sexta-feira, 14 de março de 2014

Embora soneto.

  

  
EMBORA SONETO

Vivo meu porém
No encontro do todavia
Sou mas
Contudo
Encho-me de ainda
Na espera do quando
Desando ou desbundo.
Viver é apesar
Amar é a despeito
Ser é não obstante.
Destarte
Sou outrossim
Ilusão, sem embargo
Malgrado senão.

Artur da Távola

 
Artur da Távola, pseudônimo de Paulo Alberto Monteiro de Barros, político, escritor, poeta e jornalista brasileiro.

Iniciou dua vida política em 1960, no PTN, pelo estado da Guanabara. Dois anos depois, ele se elegeu deputado constituinte pelo PTB. Cassado pela ditadura militar, viveu na Bolívia e no Chile entre 1964 e 1968. Tornou-se um dos fundadores do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e líder da bancada tucana na assembleia constituinte de 1988, ano em que concorreu, sem sucesso, à prefeitura do... Leia mais aqui: 
  
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quarta-feira, 12 de março de 2014

Quem Dirá aos amantes

 
 

QUEM DIRÁ AOS AMANTES

Quem dirá aos amantes      
o caminho
pelo qual os corpos vão 
ao tempo do que souberam?
E depois foi noção,
espaço, letra,
e não quiseram o retorno?
Quem os aguardará do outro lado
onde o riso,
a aveia, são o preâmbulo
da carícia no seio?

Quem dirá aos 
amantes que o amor há de despir
o acontecido
e passará pela mão
como passou o frio
de flor em flor?

Armindo Trevisan
Armindo Trevisan (Santa Maria RS, 1933). Formou-se em Teologia no Colégio Máximo Palotino, em Santa Maria RS, em 1958. Em 1963 tornou-se doutor em Filosofia em Friburgo (Suíça). Seu primeiro livro de poesia, A Surpresa do Ser, é publicado em 1967. Em 1970 solicita a dispensa dos votos religiosos. Ainda na década de 1970 faz estudo de Literatura, Arte e Filosofia como bolsista da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa (Portugal). Colabora em vários... Leia mais aqui: 

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segunda-feira, 10 de março de 2014

Poema a Carlos Drummond de Andrade.

  
POEMA A CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
 
A hora madura envolve-te e palpita
nela o que ora te oferta, ora recusa:
posse do que és, na solidão recôndita,
graça de amar, ressurreição dos mitos.

Claros enigmas riscam céus distantes.
Falam-te as coisas pela voz que é o próprio
sentimento do mundo e pela meiga
sombra gentil que ressuscita a infância.

Ouço-te andar nas lages desta rua,
que nem sei se é de Minas ou de alguma
pátria remota que ao teu canto se abre.

E amo-te a voz multiplicada em ecos:
verbo dócil à força íntima e pura
que à máquina do mundo se incorpora.

Emílio Moura


Emílio Guimarães Moura nasceu em Dores do Indaiá (MG), em 14 de agosto de 1902. Homem de indelével suavidade, como o definiu Drummond num dos inúmeros poemas dedicados ao amigo. Emílio Moura integrou o grupo mineiro que modificou os rumos da literatura brasileira. Já no início da década de 1920, tempos de efervescência cultural no País, aproximou-se, além do poeta itabirano, de personalidades como Abgar Renault, Pedro Nava, Milton Campos, João Alphonsus, Gustavo Capanema e Aníbal Machado.

Incansável, a turma de ilustres companheiros iniciava sua formação através da troca de experiências e discussões intelectuais. "Todos vinham de cidades do interior... Leia mais aqui: 

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http://web.face.ufmg.br/face/portal/institucional/face/historico/56.html

sexta-feira, 7 de março de 2014

Sonho lindo.

 SONHO LINDO

Foi tão grande a ventura que eu obtive,
Naquele sonho que durou tão pouco.
Por Deus te peço não me julgues louco,
Pois bem não sei, se é que sonhando estive.

A forte angustia que em meu peito vive,
Vi transformar-se em devaneio vago,
No doce enlevo que recordo e afago,
Do sonho lindo que contigo tive.

Não procuro ilusão que lenitiva,
Meu sofrer ou esperança que me embala.
Pois nada existe que se iguala,
Ao sonho lindo que contigo tive.

Não procuro emoção que te cative,
Estejas tu de mim perto ou distante.
Quero apenas lembrar por um instante,
Do sonho lindo que contigo tive.

Já da vida eu estando no declive,
Meu coração, inativo descansa.
Nem beijos nem paixão, grata lembrança
Daquele sonho que contigo tive.

R.S. Furtado 

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